sexta-feira, 16 de abril de 2010

Diário do Pará viaja pela história de Cametá

Cametá é um convite à tranquilidade típica do interior, à história e cultura amazônicas. Se o meio de transporte utilizado for barco ou, no caso de balsa, para a travessia de carros grandes e pequenos, a porta de entrada da cidade será pelo Tocantins, famoso por suas águas claras. A recepção é feita por crianças ribeirinhas que, entre um mergulho e outro, saúdam os visitantes com suas brincadeiras. Aí não tem jeito: bate aquela vontade de pular no rio e nadar na praia da Aldeia, que banha a cidade.

Mas um roteiro turístico não tem razão de ser se não for para conhecer um pouco da história e da cultura de um lugar. E neste quesito Cametá, declarada Patrimônio Histórico Nacional e hoje com cerca de 110 mil habitantes, segundo o IBGE, guarda um tesouro que está presente em sua arquitetura histórica. Isso sem contar com o seu papel importante em episódios como a Adesão do Pará à Independência do Brasil e o Movimento Cabano. Então, prepare-se, pois vamos desembarcar na “Terra dos Notáveis”.

O município de Cametá foi fundado em 1620, pouco tempo depois de Francisco Caldeira Castelo Branco ter aportado em Nossa Senhora de Belém do Grão-Pará (atual Belém), em 1616. O autor da fundação foi o frade Capuchinho Cristóvão José, que chegou ao lugar à época habitado pelos Camutás. Os índios ao invés das tradicionais malocas, habitavam em casas instaladas nos topos das árvores. Por causa desse costume, o historiador Carlos Roque afirmou, em uma de suas obras, que o significado literal de Cametá é “degrau no mato”.

Aliás, talvez por ter surgido pelas mãos de um religioso, enviado pela Igreja Católica para catequizar índios e negros, Cametá tenha tantas igrejas. A mais antiga, situada na orla da praia da Aldeia, é a de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Não se sabe ao certo quando foi construída, mas acredita-se que por volta do século XVIII.

A Igreja de São Benedito é testemunha da catequização dos escravos que a ergueram no final do século XIX, no início uma pequena capela de pau-a-pique. Hoje, em todo o entorno da igreja, fiéis de São Benedito amarram imensas fitas às quais relacionam suas promessas e graças alcançadas. Outra atração é a Igreja de São João Batista, também conhecida como Catedral de Cametá, construção neoclássica de 1757.

É na praça João Pessoa, em frente à igreja, que está um monumento que explica a razão pela qual a cidade é conhecida, “Terra dos Notáveis”. Trata-se dos bustos de nascidos no município que marcaram a história e a política da cidade, do Pará e do Brasil: cônego Siqueira Mendes, Ângelo Custódio, Padre Prudêncio, Deodoro de Mendonça, dentre outros. O prédio do Instituto Nossa Senhora Auxiliadora lembra os antigos conventos que se tornaram escolas tradicionais de Belém, como os colégios Gentil Bittencourt e Nazaré. O diferencial é a Igreja das Mercês, em estilo Barroco, da qual a escola faz parte, e a praça onde fica localizada, bastante arborizada e com um grande anfiteatro.

Não foram somente os religiosos que deixaram como herança os prédios históricos de Cametá. O poder público e as famílias tradicionais também foram responsáveis por muitos casarões e palacetes. Alguns deles estão em ruínas, mas outros ainda desfrutam da preservação. Entre os públicos estão os prédios da Prefeitura de Cametá, o Grupo Escolar Dom Romualdo de Seixas.

A beleza dos antigos azulejos portugueses orna toda a fachada de dois prédios unidos e de propriedade particular. É a “Residência dos Peres”, construção de 1870, aproximadamente. Eles continuam nas mãos da mesma família e complementam o passeio turístico ao redor da praça João Pessoa, ou praça dos Notáveis.

“Os prédios históricos de Cametá são herança dos portugueses, sobretudo. Os que não foram erguidos pelo poder público, partiram da iniciativa de exportadores de cacau e cana-de-açúcar, atividade econômica predominante naquele período”, afirma o escritor e historiador Manuel Valente, filho do município.

Se o turista quiser complementar seus conhecimentos sobre a história do lugar, pode ir ao Museu Histórico de Cametá Raimundo Penafort de Sena. Lá estão objetos antigos, documentos e pinturas, entre elas muitos autorretratos de cametaenses ilustres.


A cidade de Cametá ocupou papel de protagonista durante

todo o movimento da Cabanagem, uma das mais importantes revoltas contra a representatividade inexistente da Província do Grão-Pará em relação à capital federal (Rio de Janeiro) e à situaçãode miséria em que viviam as populações ribeirinhas.

Foi a primeira província do Grão-Pará, em 1823, a aderir à Independência do Brasil. Foi de Cametá que Ângelo Custódio partiu rumo a Belém, para atender ao chamado do Governo Cabano, chefiado por Antônio Vinagre, para assumir a presidência da província.

Depois de vários desentendimentos, ele acabou não assumindo o governo e retornou a Cametá, onde tomou posse do cargo perante à Câmara Municipal. Assim, por um breve período, Cametá foi a sede do Governo da Província Além disso, a cidade às margens do Tocantins é a única do Pará que ostenta o “Monumento em Homenagem à Resistência à Cabanagem”, lembrando os conflitos armados em que mais de 300 cabanos foram massacrados nas ruas em favor do Império Brasileiro.
Por que se orgulhar?
Cametá carrega uma enorme carga cultural e histórica transmitida através de suas construções arquitetônicas dos séculos XVIII e XIX. Teve um papel de destaque na história do Pará e do Brasil, sobretudo durante toda a revolta da Cabanagem. Declarada Patrimônio Histórico Nacional, apesar de muitos de seus prédios estarem em ruínas, ainda possui preservados casarões e palacetes que são uma das suas principais atrações turísticas.
Diário do Pará. Edição 9388. Disponível em <http://www.diariodopara.com.br/N-82288-CAMETA-+VIAGEM+PELA+HISTORIA.html>. Acesso em 16/04/2010

Um comentário:

Luzia Ribeiro disse...

Muito bom ler sobre a nossa cidade! Esta matéria mostra o quanto se tem de precioso e interessante a encontrar na cidade de Cametá! Muito bom mesmo, adorei. Parabéns pelo Blog. Continue assim e sempre estarei por aqui conferindo as novidades.