quinta-feira, 8 de abril de 2010

Erosão continua sendo o pesadelo de Cametá


Ameaça - Rio Tocantins avança cada vez mais e destrói barranco que pretege a cidade

Evandro Flexa Jr.

Da Redação de O Liberal

O movimento das águas, fundamental para o processo de formação das pérolas nas ostras, está acabando lentamente com a cidade conhecida como a Pérola do Tocantins. O município de Cametá, localizado no Baixo Tocantins, possui mais de 120 mil habitantes e, com 374 anos, está entre as mais antigas localidades paraenses. Banhada pelo rio Tocantins, a cidade precisa do curso das águas para se desenvolver. No entanto, há mais de oito décadas, Cametá enfrenta um problema sério provocado pela maré: a erosão da sua orla. Pelo menos sete dos mais antigos casarões foram para o fundo a partir de 1920, segundo conta o historiador Haroldo Barros. Desde o período, diversas medidas foram adotadas pelo poder público, porém, os barrancos de quase sete metros continuam desabando. O Centro Municipal de Saúde, localizado na primeira rua da cidade, está há menos de dois metros de vir a baixo.
Segundo avalia o aposentado Manoel Gaia, morador de Cametá há mais de 60 anos, o problema é antigo e ninguém consegue resolver. 'Muita coisa já caiu, e apenas parte do que foi destruído foi consertado pela prefeitura, graças a verbas federais', afirma. Um grande muro de arrimo foi construído em boa parte da orla, porém, a frente da cidade é extensa e a obra precisa de continuação. 'O muro começou a ser contruído, já faz mais de 20 anos. Não entendo por que a obra não foi adiante', indaga. Segundo afirma Gaia, foram feitas vária tentativas para manter o arrimo de pé, contudo, praticamente todas vieram a baixo com a força das águas.
Manoel explica que o canal - trecho do rio em que as águas percorrem com mais intensidade - é muito próximo da orla e, com isso, a maré chega até o barranco com bastante força.
'Este canal tem 30 metros de profundidade e passa quase na beira. Quando os navios grandes enconstam no porto, a força maré pára nos cascos, porém, o restante da orla sofre', comenta. Por este motivo, todas as tentativas de construção de cais não foram adiante. 'Por enquanto, o muro de arrimo está segurando. A última revitalização aconteceu em 2002, com verba federal', destaca.

Desastres à vista, prevê morador

As águas do rio Tocantins passam por baixo das primeiras ruas da cidade. Pelo menos é o que afirma João Batista Redig, aposentado e morador de Cametá há 73 anos. 'A força das águas perfurou alguns trechos dos barrancos, ou seja, o rio está adentrando a cidade pelo fundo, através destes canais. Certa vez jogaram óleo no poço da prefeitura, que fica no centro da cidade, e a orla ficou completamente suja', conta. João conta ainda que tudo que foi construído ao longo dos últimos 20 anos pode desabar a qualquer momento.
'Teria que começar um projeto novo, e levar o arrimo até a praia da Aldeia. Se demorar muito, novos desatres podem acontecer. A clínica municipal está muito perto de desabar', avalia.
Segundo conta o historiador Haroldo Barros, pelo menos cinco barcos foram afundados na frente da cidade para conter a maré. 'O primeiro deles foi o navio Perseverança, em 1940. Depois, em 1980, a embarcação Taubaté também afundou. Na década de 90, dois outros navios também passaram pelo mesmo processo: Leandeteau, Poraquê. O último foi em 2001, um barco chamado Roraima', conta. Conforme afirma o historiador, o naufrágio das embarcações tinha como intuito levar o canal para mais distante da orla. Haroldo destaca ainda que o rio Tocantins chegou a ter 20 metros de profundidade, porém, em 2001 estava com apenas 16 metros.
Para Mauro de Melo Valente, secretário de Obras de Cametá, a prefeitura não tem recursos para atuar sozinha em busca da solução. 'O governo do estado tem projetos, no entanto, até agora ficou só no discurso', afirma. Mauro lembra que o deputado federal Gerson Perez (PP/PA) pleiteou R$ 1 milhão para dar continuidade à obra - porém, o valor foi muito abaixo do custo real do projeto, orçado em R$ 3,7 milhões. 'O projeto já está pronto, e foi feito pela empresa Paulo Brígida Engenharia. Falta o governo cumprir com a promessa, feita desde 2008, para que a obra possa sair do papel', ressalta Valente. (E. F.)
Jornal O Liberal. Edição de 21/02/2010. Disponível em <http://www.orm.com.br/oliberal/interna/default.asp?modulo=247&codigo=457820>


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