Por Jânio Arnaud,
revisada e enriquecida por Flodoaldo Santos
Mestre Mimico, D. Máxima, Mundico e M.Antonia |
Raimundo Inácio, conhecido respeitosa e carinhosamente como “Mestre
Mimico”, ainda jovem, desenvolveu habilidades para alfaiataria, praticada
em sua própria casa, às margens do rio, onde, com sua notável destreza no
corte-e-costura, produzia peças sob encomendas para a comunidade em geral.
Ainda na juventude, descobriu aptidão para a música, tocando
instrumentos de corda e percussão no grupo de banguê local “União Furtadoense”,
na companhia de seu Irmão músico Hugolino Inácio Ferreira. Aprendeu e
aprimorou, de forma extraordinária, suas habilidades e domínio de vários
instrumentos musicais, como banjo, violão, rabecão, flauta, saxofone, trompete,
percussão, entre outros, além de desenvolver conhecimentos da teoria e regência
musical, com domínio de leitura e escrita de partituras, se tornando professor
da linguagem musical multi-instrumental em sua comunidade. Junto com o referido
irmão e depois com os filhos, Veríssimo Ferreira (Vevé), Zenóbio Ferreira, Raimundo
Ferreira (Mundico) e Elias Ferreira formou a “Jazz Orquestra Aliança”, que se
apresentava em muitos eventos festivos das localidades vizinhas, se tornando
depois, nas décadas de 1970 e 1980, já munida de alguns instrumentos elétricos,
porém mantendo os de sopro, uma das mais importantes e mais solicitadas bandas
musicais da região tocantina.
Seu conhecimento refinado e culto tinha proveniência da
dedicação à leitura de livros em vários ramos de conhecimento, como geografia,
astrologia, história e, entre outros, da própria medicina, no entanto a arte
era a sua grande paixão.
Destacou-se em sua comunidade, também, na linguagem do teatro
popular, desenvolvendo muitas peças de drama pastoril, compondo músicas
personalizadas, textos de diálogos e narrativas, figurinos, dirigindo as
encenações das personagens, que interpretavam histórias bíblicas.
Tabelião de referência, conseguiu oficializar o cartório do
Rio Furtados, onde trabalhou durante 20 anos com atos jurídicos de registros de
sua comunidade.
Sua competência hábil também se aflorou na arquitetura e
engenharia, desenvolvendo projetos, e atuando na própria construção de várias
igrejas e altares de comunidades cristãs da região, dando atenção especial para
a igreja de sua comunidade, N. Sra. das Graças, com uma decoração refinada e
imponente.
Adaptou sua destreza
da engenharia para a construção náutica, confeccionando pequenas e grandes
embarcações, talento aflorado em dos seus filho, Newton Ferreira. Neste
contexto, se tornou mestre na pintura de barcos e remos, assim como de igrejas
e residências, destacando o padrão estético ribeirinho amazônico, sendo nesse
meio, seu irmão Pedro Inácio Ferreira, um grande e respeitado pintor local.
Raimundo Inácio não ficaria de fora das manifestações
folclóricas, especialmente do carnaval, idealizando, juntamente com irmãos,
filhos e amigos, alegorias carnavalescas, que tematizavam letras de marchinhas
de sucesso da época ou assuntos ligados ao folclore regional, onde eram
construídos e modelados sobre canoas, ou cascos, como são lá são conhecidos,
figuras de pássaros ou seres imaginários, utilizando materiais coletados na
própria mata ribeirinha, como cipó, folhagem, galhos de árvores, combinados a restos
de madeira, lonas, trapos de roupas e outros materiais, denominando essa
produção de “assustados”, cujo local de confecção da alegoria se
mantinha em segredo, em algum lugar de uma das ilhas do rio, até o esperado dia
da empolgante apresentação, que se dava em meio à principal festa de carnaval,
no barracão da comunidade. Para os cordões de mascarados, manifestação típica
do carnaval daquela região, Mestre Mimico compunha marchinhas em sua
letra e melodia, além das falas das personagens dos cordões, conhecidas como
comédias. Vale destacar que o Mestre compôs a primeira marchinha de carnaval
intitulada “cavalo e boi” para o renomado “Cordão da Bicharada”.
Na companhia de sua esposa, Máxima Gonçalves Ferreira, criou
e educou seus 9 filhos no mesmo ambiente ribeirinho, cenário de suas
inspirações, muitos dos quais desenvolveram talentos no ramo da música, arte
naval, marcenaria, corte-costura, tabelionato e artes plásticas.
A multi-habilidade de Raimundo Inácio Ferreira e seus
relevantes serviços dedicados à comunidade de Rio Furtados, o tornou uma figura
respeitosa e importante para seus pares, sendo consagrado um verdadeiro
baluarte. Rio Furtados, por ocasião, se tornou um lugar fértil em atividade
artística-cultural, visto como um lugar criativo.
Pelo amor que tinha ao seu lugar, Mestre Mimico,
possuía também o propósito pedagógico em seus fazeres, se tornando, seus
aprendizes, notáveis profissionais e artistas, dando continuidade ao verdadeiro
legado de conhecimento e arte por ele deixado, a exemplo de seu filho, Mestre
Zenóbio, com sua conhecida obra “Cordão da Bicharada”.
Nosso Mestre recebeu da Comunidade Furdoense, uma homenagem Post
Mortem ganhando o nome da única escola do Rio Furtados: ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
RAIMUNDO INÁCIO FERREIRA. Seu nome também se eternizará no hino da escola de
autoria do escritor e compositor furdoense Flodoaldo Santos.
Mestre Mimico, faleceu em Belém do Pará, em 1980. Sua
passagem na história do Rio Furtados e em nossas vidas, simboliza o poder que a
arte e o conhecimento possuem de transformar e tornar esse mundo melhor e mais
belo.
6 comentários:
Obrigado amigo Flodoaldo pela bela composição do hino de nossa escola.
É o primeiro elogio que recebo.Fico muito feliz e te agradeço. Vamos torcer para ser aprovado por professores e alunos.
Gostaria de saber quem é você.
Fica aqui todo meu a esse ilustre homem baluarte!
GRATO AMIGO! SOLICITO SE IDENTIFICAR!
Muito legal, 1972 à 1989, sou testemunha, morei 17 anos no meu famoso furo do rato, com muito orgulho, hoje moro no Paraná mais não esqueço da minha terra Natal, abraço meu amigo flodoaldo.
Muito grato conterrâneo amigo! Posso saber seu nome
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