quarta-feira, 13 de setembro de 2023

MINI BIOGRAFIA DO MESTRE MIMICO

Por Jânio Arnaud, revisada e enriquecida por Flodoaldo Santos




Mestre Mimico, D. Máxima, Mundico e M.Antonia
     Raimundo Inácio Ferreira nasceu em 1903, no Rio Furtados, região de ilhas do Rio Tocantins, município de Cametá. Filho de Veríssimo Inácio Ferreira e Ana Miranda Ferreira, cresceu, junto com seus 5 irmãos em ambiente peculiar ribeirinho amazônico, frente aos desafios da vida na floresta, mas com jubiloso anseio em aprender, fazer e ensinar a beleza que existe na arte, no mundo e na vida.

 Raimundo Inácio, conhecido respeitosa e carinhosamente como “Mestre Mimico”, ainda jovem, desenvolveu habilidades para alfaiataria, praticada em sua própria casa, às margens do rio, onde, com sua notável destreza no corte-e-costura, produzia peças sob encomendas para a comunidade em geral.

     Ainda na juventude, descobriu aptidão para a música, tocando instrumentos de corda e percussão no grupo de banguê local “União Furtadoense”, na companhia de seu Irmão músico Hugolino Inácio Ferreira. Aprendeu e aprimorou, de forma extraordinária, suas habilidades e domínio de vários instrumentos musicais, como banjo, violão, rabecão, flauta, saxofone, trompete, percussão, entre outros, além de desenvolver conhecimentos da teoria e regência musical, com domínio de leitura e escrita de partituras, se tornando professor da linguagem musical multi-instrumental em sua comunidade. Junto com o referido irmão e depois com os filhos, Veríssimo Ferreira (Vevé), Zenóbio Ferreira, Raimundo Ferreira (Mundico) e Elias Ferreira formou a “Jazz Orquestra Aliança”, que se apresentava em muitos eventos festivos das localidades vizinhas, se tornando depois, nas décadas de 1970 e 1980, já munida de alguns instrumentos elétricos, porém mantendo os de sopro, uma das mais importantes e mais solicitadas bandas musicais da região tocantina.

     Seu conhecimento refinado e culto tinha proveniência da dedicação à leitura de livros em vários ramos de conhecimento, como geografia, astrologia, história e, entre outros, da própria medicina, no entanto a arte era a sua grande paixão.

     Destacou-se em sua comunidade, também, na linguagem do teatro popular, desenvolvendo muitas peças de drama pastoril, compondo músicas personalizadas, textos de diálogos e narrativas, figurinos, dirigindo as encenações das personagens, que interpretavam histórias bíblicas.

     Tabelião de referência, conseguiu oficializar o cartório do Rio Furtados, onde trabalhou durante 20 anos com atos jurídicos de registros de sua comunidade.

     Sua competência hábil também se aflorou na arquitetura e engenharia, desenvolvendo projetos, e atuando na própria construção de várias igrejas e altares de comunidades cristãs da região, dando atenção especial para a igreja de sua comunidade, N. Sra. das Graças, com uma decoração refinada e imponente.

      Adaptou sua destreza da engenharia para a construção náutica, confeccionando pequenas e grandes embarcações, talento aflorado em dos seus filho, Newton Ferreira. Neste contexto, se tornou mestre na pintura de barcos e remos, assim como de igrejas e residências, destacando o padrão estético ribeirinho amazônico, sendo nesse meio, seu irmão Pedro Inácio Ferreira, um grande e respeitado pintor local.

     Raimundo Inácio não ficaria de fora das manifestações folclóricas, especialmente do carnaval, idealizando, juntamente com irmãos, filhos e amigos, alegorias carnavalescas, que tematizavam letras de marchinhas de sucesso da época ou assuntos ligados ao folclore regional, onde eram construídos e modelados sobre canoas, ou cascos, como são lá são conhecidos, figuras de pássaros ou seres imaginários, utilizando materiais coletados na própria mata ribeirinha, como cipó, folhagem, galhos de árvores, combinados a restos de madeira, lonas, trapos de roupas e outros materiais, denominando essa produção de “assustados”, cujo local de confecção da alegoria se mantinha em segredo, em algum lugar de uma das ilhas do rio, até o esperado dia da empolgante apresentação, que se dava em meio à principal festa de carnaval, no barracão da comunidade. Para os cordões de mascarados, manifestação típica do carnaval daquela região, Mestre Mimico compunha marchinhas em sua letra e melodia, além das falas das personagens dos cordões, conhecidas como comédias. Vale destacar que o Mestre compôs a primeira marchinha de carnaval intitulada “cavalo e boi” para o renomado “Cordão da Bicharada”.

     Na companhia de sua esposa, Máxima Gonçalves Ferreira, criou e educou seus 9 filhos no mesmo ambiente ribeirinho, cenário de suas inspirações, muitos dos quais desenvolveram talentos no ramo da música, arte naval, marcenaria, corte-costura, tabelionato e artes plásticas.

     A multi-habilidade de Raimundo Inácio Ferreira e seus relevantes serviços dedicados à comunidade de Rio Furtados, o tornou uma figura respeitosa e importante para seus pares, sendo consagrado um verdadeiro baluarte. Rio Furtados, por ocasião, se tornou um lugar fértil em atividade artística-cultural, visto como um lugar criativo.

     Pelo amor que tinha ao seu lugar, Mestre Mimico, possuía também o propósito pedagógico em seus fazeres, se tornando, seus aprendizes, notáveis profissionais e artistas, dando continuidade ao verdadeiro legado de conhecimento e arte por ele deixado, a exemplo de seu filho, Mestre Zenóbio, com sua conhecida obra “Cordão da Bicharada”.

     Nosso Mestre recebeu da Comunidade Furdoense, uma homenagem Post Mortem ganhando o nome da única escola do Rio Furtados:  ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO RAIMUNDO INÁCIO FERREIRA. Seu nome também se eternizará no hino da escola de autoria do escritor e compositor furdoense Flodoaldo Santos.

     Mestre Mimico, faleceu em Belém do Pará, em 1980. Sua passagem na história do Rio Furtados e em nossas vidas, simboliza o poder que a arte e o conhecimento possuem de transformar e tornar esse mundo melhor e mais belo.

6 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado amigo Flodoaldo pela bela composição do hino de nossa escola.

Cametaoara disse...

É o primeiro elogio que recebo.Fico muito feliz e te agradeço. Vamos torcer para ser aprovado por professores e alunos.
Gostaria de saber quem é você.

Anônimo disse...

Fica aqui todo meu a esse ilustre homem baluarte!

Cametaoara disse...

GRATO AMIGO! SOLICITO SE IDENTIFICAR!

Anônimo disse...

Muito legal, 1972 à 1989, sou testemunha, morei 17 anos no meu famoso furo do rato, com muito orgulho, hoje moro no Paraná mais não esqueço da minha terra Natal, abraço meu amigo flodoaldo.

Cametaoara disse...

Muito grato conterrâneo amigo! Posso saber seu nome