terça-feira, 25 de setembro de 2012

Adeus ao Mestre Cupijó criador do novo Siriá

O blog Cametaoara, cumprindo um dever de justiça no sentido de perpetuar as boas lembranças dos seus filhos notáveis e ilustres deste nosso querido torrão, redivulga hoje sua matéria do dia 28 de março de 2010, para lançar aos nossos munícipes o suave perfume da mais nova flor deste nosso belo e rico jardim. Me atrevo a chamá-lo aqui de FLOR DO CUPIJÓ cuja semente foi lançada a terra para jerminar no JARDIM DOS ARTISTAS cametaenses. Não sabemos até se devemos te dizer adeus MESTRE CUPIJÓ, já que acreditamos que viviverás em nossa memória!

  O sentido literal da palavra mestre, segundo a Língua Portuguesa, é instrutor, educador, chefe, guia e artesão. Para ritmos folclóricos e populares como o Siriá, música surgida através dos negros e índios de Cametá, no nordeste do Pará, mestre tem um quê a mais do que esses significados. É o compositor, o músico, o cantor e, sobretudo, o divulgador de um ritmo que sobrevive aos séculos esbanjando alegria e amor às nossas raízes.

No Siriá, quem sustenta o posto máximo é um advogado de jeito calmo e modesto, Joaquim Maria Dias de Castro, 74, ou para ser exato o mestre Cupijó, considerado o re-inventor do Siriá e responsável por torná-lo conhecido Brasil e mundo afora.

Distante dos holofotes que um artista responsável por tantos feitos poderia desfrutar, o mestre Cupijó ainda vive na pacata Cametá e tem como quintal o imenso rio Tocantins, que lhe inspirou a realização de tantos trabalhos musicais. Antes de mergulhar em um pouco da história desse artista, é preciso esclarecer que Cupijó é uma região de Cametá e está relacionada às origens do nosso personagem.

Falando em origem, ele iniciou no meio musical aos 12 anos, pelas mãos do pai, Vicente Serrão de Castro Filho, que também era músico. Um ano depois, o menino já tocava clarinete no “Jazz Batuta do Ritmo” e depois na centenária Banda Euterpe, fundada em 1874, da qual o pai era maestro e regente. Aliás, a ligação de Cupijó com a banda se estenderia por mais tempo. Quando seu pai morreu, em 1961, o jovem se juntou a outros músicos para não deixar a banda acabar. Daí em diante, estavam fadados ao sucesso.

A partir da década de 1970, gravaram seis LPs e um CD seguidos, pelas gravadoras Continental, Escorpião e Chantecler, tendo como carros-chefes músicas folclóricas cametaenses como o Samba de Cacete, o Banguê e, claro, o Siriá. O primeiro vinil foi gravado na sede “Império de Samba Favela”, em 1973, ali mesmo em Cametá. Com uma nova roupagem dada ao ancestral ritmo Siriá tornando-o mais acelerado e, portanto mais audível aos ouvidos do mundo, mestre Cupijó ganhou o sucesso. Sua música estourou dentro e fora do país. Virou tema musical de filmes e foi regravada por cantores internacionais muito populares na época, como o português Roberto Leal, que levou para o mundo a canção “Siriá” com coreografia feita em trajes tradicionais de Portugal. Mistura essa bastante interessante para o Siriá, cujo nome derivou-se da palavra siri, influenciada pelo sotaque dos caboclos e escravos do Baixo Tocantins; e cuja dança tem evoluções parecidas com as do Carimbó, só que com um tempero a mais de sensualidade.

“A música cametaense é marcada como antes e depois de mestre Cupijó. Ele fez a releitura de ritmos como o Siriá, que antes era tocado de forma rudimentar. Cupijó deu a ele mais musicalidade com a incorporação de outros instrumentos de sopro e cordas”, destaca Manoel Valente, historiador e autor do livro “Tambores – Ritmos e rituais da Amazônia Tocantina” (2010).

Além da atividade musical, mestre Cupijó atuou em outras áreas. Foi professor de alfabetização de adultos, assessor jurídico e vereador de Cametá no auge de sua carreira. E, ainda, num dos intervalos dessas atuações, foi um dos criadores do “Festival de Músicas Carnavalescas de Compositores Cametaenses” e deu seus passos no carnaval de Cametá, um dos mais tradicionais do Pará, como presidente da Embaixada de Samba Não Posso Me Amofiná.